terça-feira, 29 de março de 2011

Arthur Rimbaud, Os pobres na igreja; BH, 0290302011.

Amontoados a um canto, entre os bancos da igreja,
Que seu fétido bafo aquece, olhos curiosos
Postos no coro oirado e no mestre que harpeja
De vinte goelas vis os cantos piedosos.

Sentindo o calor da cera igual perfume a pão,
Felizes, como cães humilhados, acuando,
Os Pobres do bom Deus, seu amo e seu patrão,
Vão risíveis améns e oremus recitando.

As mulheres faz bem esse alisar dos bancos
Depois que Deus lhes deu seis dias de penar!
E berçam, enrolando em tristes cueiros brancos,
Espécies infantis que choram sem parar;

Comedoras de sopa, o sujo seio arqueando,
Uma prece no olhar mas nunca orando aos céus,
Observam desfilar maldosamente um bando
De meninas com seus excêntricos chapéus.

Lá fora, o frio, a fome, o marido na farra.
É bom. Uma hora mais. Depois, pobres coitadas!
 - Enquanto isso, ao redor, sussurra, geme, escarra
A pobre coleção de velhas papadas:

Os estupores lá estão e os epiléticos,
Dos quais, nalguma esquina, ao vê-los, se desvia:
E raspando o nariz em seus missais caquéticos,
Esses cegos que cão conduz à sacristia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário