segunda-feira, 21 de março de 2011

Nietzsche, O Egoísmo Idealista; BH, 0210302011.

Haveria um estado mais sagrado do que aquele da gravidez?
Fazer tudo o que fazemos com a convicção íntima de que, de
Uma maneira ou de outra, isso deve servir ao que está em nós
Em estado de devir?
Que isso deve aumentar seu valor secreto, no qual pensamos com
Arrebatamento do mistério que carregamos em nós.
É então que evitamos muitas coisas sem sermos forçados a nos
Coagir duramente!
Reprimimos uma palavra violenta, estendemos a mão em tom
Conciliador: a criança deve nascer do que há de melhor e mais
Doce.
Nós nos assustamos com nossa violência e com nossa rispidez,
Como se derramassem, para o caro desconhecido, uma gota de
Infelicidade no copo de sua vida!
Tudo é velado, cheio de pressentimento, não sabemos como isso
Acontece, esperamos e procuramos estar preparados.
Ao mesmo tempo, um sentimento puro e purificador de profunda
Irresponsabilidade reina em nós, um sentimento semelhante
Àquele que experimenta o espectador diante de uma cortina
Abaixada - isso cresce, isso vem à luz, não temos nada nas mãos
Para determinar seu valor ou a hora de sua vinda.
Estamos inteiramente reduzidos às influências indiretas benfeitoras
E defensivas.
"Há ali qualquer coisa que cresce, qualquer coisa maior que nós" -
Essa é a nossa mais secreta esperança: preparamos tudo em vista
De seu surgimento e de sua prosperidade: não somente tudo que é
Útil, mas também o supéfluo, os reconfortos e as cores de nossa alma.
 - É nessa atmosfera sagrada que é preciso viver!
Que possamos nela viver!
Que estejamos à espera de um pensamento ou de uma ação -
Diante de toda realização essencial não podemos nos comportar de
Outra forma que diante de uma gravidez e deveríamos espalhar aos
Quatro ventos as pretensiosas expressões que falam de "querer" e de "criar"!
É o verdadeiro egoísmo idealista sempre ter cuidado de vigiar e de manter
A alma em repouso para que nossa fecundidade tenha pleno sucesso.
Assim vigiamos e tomamos cuidado, de uma forma indireta, para o bem de
Todos; e o estado de espírito em que vivemos, esse estado de espírito
Altaneiro e doce é um bálsamo que se difunde para longe em torno de nós,
Mesmo nas almas inquietas.
 - Mas as mulheres grávidas são estranhas!
Sejamos, pois, estranhos nós também e não recriminemos os outros por terem
De sê-lo também!
E  mesmo se isso não der certo e se tornar perigoso, em nossa
Veneração diante de tudo o que nasce, não fiquemos atrás da
Justiça terrestre que não permite a um juiz ou a um carrasco pôr
As mãos numa mulher grávida!

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