segunda-feira, 21 de março de 2011

Manuel Bandeira, Mancha; BH, 0210302011.

Para reproduzir o donaire sem par
Desse alvo rosto e desse irônico sorriso
Que desconcerta e prende e atrai, fora preciso
A maestria de Helleu, de Boldini ou Besnard.

Luz faiscante malícia ao fundo desse olhar,
E há mais do inferno ali do que do paraíso...
O amor é tão-somente um pretexto de riso
Para esse coração flutuante e singular.

Flor de perfume raro e de esquisito encanto,
Ela zomba dos que (pobres deles!) sem cor
Vão lhe aos pés ajoelhar ingenuamente... Enquanto

Alguém não lhe magoar a boca de veludo...
E não a fizer ver, por si, que isso de amor
No fundo é amargo e triste e dói mais do que tudo.

                                                                           1907

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