domingo, 27 de março de 2011

Leconte de Lisle, À Noite O Vento Frio; BH, 0270302011.

À noite, o vento frio, entre os ramos farfalha,
E rompe, muita vez, os galhos ressequidos;
Na planície, onde estão os mortos estendidos,
Branco e imenso lençol, a neve os amortalha.

Linha negra beirando o acanhado horizonte,
Um vôo de corvos vai passando de rapão,
E estraleja uma ossada, espalhada no chão,
Achada por uns cães nas encostas de um monte.

Ouço os mortos gemer, sob a relva ferida.
Ó lívido país da noite sem aurora,
Quebrando vossa paz, que lembrança agressora
Vos foge, a soluçar, da boca entorpecida?

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Mas o morto se cala em seu mundo. Ilusão!
É o vento, o vivo afã dos cães em sua presa,
É teu suspiro triste, injusta natureza!
É o gemido, o clamor do aflito coração.

Cala-te! O céu é surdo, a terra descuidada.
Se não podes curar, por que tanto gemido?
Sucumbe sem falar como um lobo ferido
Que remorde o punhal com a boca ensanguentada.

Ainda uma tortura e um palpitar fremente.
Mais nada. E o chão se abrindo, a cinza nele cai:
A relva do silêncio esconde a tumba e vai,
Por sobre coisas vãs, crescendo eternamente.

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