Não dói e não levo meus pensamentos
A passear, a tomar sol, a brincar
Na relva verde; não, dói, não
Estendo meus pensamentos nos varais,
Não os lavo nas beiras dos rios, como
As lavadeiras lavam suas roupas, e não
Os bato nas pedras para tirar as sujeiras,
Como as mulheres lavadeiras fazem para
Limpar as roupas, e nem os lanço nas
Ondas do mar; eles não são como ovelhas
A ser guiados por seus pastores; não são
Rebanhos e não saem pelos pastos a
Trotarem na grama fresca; não, ai, dói,
Meus pensamentos são frios, não
Esquentam ao sol, não se banham à
Luz do luar; é uma pena, não
São experientes e caem em emboscadas,
Caem em ciladas e são destruídos
Rapidamente; vivem em grutas,
Acorrentados em cavernas e
Aprisionados em paredões; não
Geram vida, não causam o óbvio,
E sim contradições e anomalias;
Não resguardo meus pensamentos,
E eles são pacientes de clínicas e
De UTIs, e estão sempre à beira
Da morte; são sempre terminais;
Não, tu não sentes, mas dói,
Meus males estão neles, nessas agulhas
Enfiadas no meu cérebro; nesses
Espetos traspassados na minha
Mente; nesses punhais, facas, baionetas,
Cravadas no crânio, nessa constante
Dor de cabeça, que não liberto
Para ares renovados; que não
Liberto para usufruir das tardes
E das ventanias; bem, é assim,
Não há analgésico, dói e são
Os meus pensamentos a arfarem,
A se debaterem nas chapas quentes,
A se fritarem nas frigideiras,
A se evaporarem nas chaleiras.
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