sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Nietzsche, Aprender; BH, 0120802011.

Michelangelo via em Rafael o estudo, em si mesmo via a natureza:
Num a arte aprendeu, no outro, o dom natural.
Isso, porém, é pedantismo, seja dito sem querer faltar de respeito
Com o grande pedante.
O que é o dom, senão o nome que se dá a um estudo anterior, a
Uma experiência, a um exercício, a uma apropriação, a uma
Assimilação, estudo que remonta talvez aos tempos de nossos pais
Ou mais longe ainda!
Mais ainda: aquele que aprende cria seus próprios dons - mas não é
Fácil aprender e não somente uma questão de boa vontade:
É preciso poder aprender.
Num artista, é a inveja que muitas vezes se opõe ou essa altivez que,
Desde que aparece o sentimento do estranho, se põe imediatamente
Em estado de defesa, em vez de se dispor em estado receptivo.
Rafael não tinha nem essa inveja nem essa altivez, precisamente como
Goethe, e é por isso que ambos foram grandes aprendizes e não
Apenas os exploradores desses filões devidos às forças telúricas e à
História dos antepassados deles.
A nossos olhos Rafael desaparece no momento em que ainda está
Aprendendo, ocupado como estava em assimilar o que seu grande
Rival chamava sua "natureza": esse nobre ladrão levava todos os dias
Um pedaço; mas, antes de ter transportado todo o Michelangelo para
Sua casa, morreu - e a última série de suas obras, início de um novo
Plano de estudo, é menos perfeita e de menor qualidade em termos
Absolutos: justamente porque o grande aprendiz foi perturbado pela
Morte na realização de sua tarefa mais difícil e levou com ele o
Último objetivo justificador que tinha em vista. 

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