sábado, 31 de março de 2018

Quando morrer; Varanda da Marechal Marques Porto, 31, Tijuca; RJ/SD; Publicado: BH, 01701002012.

Quando morrer
Quero ser colocado nu
Numa câmara mortuária
De modo que
Meu corpo morto
Fique bem diante
Duma máquina eletrônica
Com capacidade de filmar
Quero que seja filmado
Cada segundo
De minha decomposição
Meu apodrecimento total
Até à pulverização geral
Meu corpo a inchar
A pele podre a se romper
Os bichos a devorar minhas carnes
Os micróbios os vermes os germes
Todos a devorarem
As minhas imundícies
As minhas carniças
Por isso que quero
Que seja tudo filmado
Não é para perder
Um minuto sequer
Da minha transformação
Por que é a única transformação
A única mudança
A única metamorfose
A única revolução
Que realmente acontece
Na vida da gente
É quando morremos
Quero o filme revelado
Exibido nos melhores cinemas
Que existem no país;
A decomposição total,
A transformação real,
O apodrecimento do podre,
A arena dos vermes,
Qualquer título sugestivo serve.

Um comentário: