sexta-feira, 11 de março de 2011

Sinto-me irritadiço de espaventoso para medonho; BH, 050120802002; Publicado: BH, 0110302011.

Sinto-me irritadiço de espaventoso para medonho
E de pavoroso, que com qualquer susto,
Um simples espanto, passo a entrar em pânico; e
Não sei a causa de tanto espavento; quero contar um
Causo, mas um mero pretexto serve para espantar
A ideia que alimentava meu pensamento; a galinha
A ciscar, é o suficiente para assustar meu ente; a
Água tranquila de um rio raso, basta para
Amedrontar meu espírito, e afugentar a tranquilidade
Do meu ser, e espavorir o riso para não me deixar
Sorrir; vestir-me de espantalho, com um traje
Que apaventa, justamente na tentativa de
Parecer espaventador, para correr de perto de mim
Os fantasmas; mas a minha arma, esta pequena espátula,
Esta caneta, que mais se assemelha a uma espatuleta,
Não tem o poder de uma espada laser de gedai; esta
Minha caneta não corta nem o espato, o nome
Antigo dado aos minerais de clivagem, muito fácil;
Esta caneta só tem o peso de deixar o escrito
Espatifado; o escritor destroçado e o autor arrebentado;
Perdido, com o espático cego; esta caneta falta e fútil,
Não é útil, não é uma espatélia, e nem é
Cada uma das peças que envolvem a flor
Das gramíneas; vive mais na boca a ser
Roída pelos dentes, do que a espatela, lâmina
De metal, de matéria plástica ou madeira e
Que serve para abaixar a língua, a fim
De melhor se poder ver a garganta dilacerada;
Aberta numa chaga só; por um golpe único,
Espatáceo, no corte afiado contido em uma
Espada que facilmente destrói o pescoço,
Como se fosse uma espata, um invólucro frágil,
Membranoso ou fibroso, que protege a espiga ou
O cacho em algumas plantas; e se usar ainda
Para decepar uma espada larga, de dois gumes
E sem ponta, a secção será bem mais feita,
Não será como se fosse um abridor de livro,
Mas um iatagã mesmo, fatal, que chega a causar
Com o talho, a espasmofilia, estado mórbido,
Caracterizado pelo aumento da excitabilidade
Dos nervos motores, acompanhada de espasmos
Musculares, em particular da glote, das mãos
E dos pés, com tendência à tetania e convulsões;
Quem nasceu espandongado, foi arrebentado quando
Era criança; desconjuntado na adolescência;
E chegou à fase adulta desarticulado e desmazelado,
Morrerá no espandongamento desmoralizado; terá desordem
No enterro e desleixo no velório, será um
Cadáver em desalinho e um corpo no desmazelo;
Por mais que queira parecer espanéfico, que
Treine retórica e pareça um presumido, não
Passará de um janota sofista; um falador
Afetado nos gestos, na palavra e no vestir;
Garrido na mentira e frajola na covardia;
Hoje que já sou velho, guardado no sotão
De um museu ou no porão de um cemitério, ou
Mosteiro, só de vez em quando, é que sou
Espanejado e meu esqueleto é limpo do
Pó, com o espanador; quando vivo, fazia
Muita espanholada, usava expressão exagerada,
Abusava do exagero da hipérbole, fazia mais e 
Mais barulho do que uma porção de espanhóis;
Era um bêbado espantado, assustado com as
Mulheres, atônito com a amnésia alcoólica e
Não era admirado por ninguém; pois a
Esparzeta, planta da família das Leguminosas,
Papilionáceas, não entra em pãnico e nem sente
A pane; ai, se sentisse em mim o dom da
Competência; e da inteligência ou mesmo da
Criatividade, não precisaria extremar tanto
Desespero e nem despartir o despautério
E mais alguma coisa, esta minha vida
Tão sem sentido; não saber separar de mim o
Que sou e nem saber espartir o que não presta
Do que presta, e penso que em mim nada presta;
Sou um espartilheiro amador e não precisam
Mais de um verbete espartilhado, de pé cingido,
De espartenhas, alpercatas de esparto elegante,
De barbantes, cordas, obras que aquele esparteiro
Faz e vende; ao sofrer ainda as consequências
Primitivas, básicas e antigas da humanidade, apresento,
Os mesmos complexos, dogmas e preconceitos de bilhões
De humanos que hoje já aprenderam a superar essas
Psicopatias, psicoses e depressões rotineiras e cotidianas;
E inda nos dias de hoje, padeço de todas elas,
Com o mesmo pânico de tempos atrás; padeço com a
Mesma depressão, fobia e distúrbio; a esparteína, alcalóide
Extraído do Cytisus scoparius, da família das Leguminosas,
Já não sente o que sinto; e invejo a espartaria, casa
Onde fabricam ou vendem obras mais perfeitas do que eu;
Não tenho o que tem o lugar onde cresce o espartal;
Neste conjunto de esparsa, antiga composição poética, em
Versos de seis sílabas; neste conjunto de pequena
Composição lírica, canto como a glória de um esparro, a
Vantagem de um gatuno que auxilia o punguista,
Ao dar esbarro na vítima ou entretendo-a, ao esconder
O objeto furtado; canto zoada, canto barulho; canto até
Esparrinhar meu pranto; esparramar tantas lágrimas o
Quanto consigo no canto entornar.

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