Direis que a poesia há de ser o que
Não é que quem a olhar não a
Vê quem a vê não a enxerga
Direis que a poesia não há de
Ser explícita como um ato sexual
Há de ser oculta pudenda como um
Súbito vulto que pensamos perceber
Não percebemos ora direis tantas
Coisas que nos confundiremos
Nos tornaremos mais confusos nos
Tornaremos mais doentes densos casmurros
Ao contrário de nos clarificarmos
Direis que a poesia é treva opaca
Que deveria ficar onde está
Impossível de ser desvendada adaptada
Entre as paredes nas molduras nos
Umbrais nos vitrais não é para ser
Vista a olho nu ou analisada a olho
Clínico secada com olho grande
Ambicionada por olho gordo quereis
A poesia sem querer a poesia o tal
Dificultar o parto dela cometer o aborto
Para matá-la inculcá-la noutras
Cabeças? permitireis? quereis ferir a
Rocha a água jorrar o leite
Ordenhado da pedra o mel a
Brotar da areia o que quereis da
Poesia? calejar as mãos esfolar os dedos
Encurvar as costas perder as vistas? de
Manhã no mar é manhã com a mesma
Manhã secular as ondas vêm do horizonte
A quebrar nas praias a pulverizar rochas
Milenares a preparar areia para os
Seguimentos da dunas nômades
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