quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

"Originais", RJ/1980, Olha meu desespero aí; Publicado: BH, 0270202020.

Olha meu desespero aí
Meu desespero não acabou não
Olha minha neurose aí
Não acabou não
Continuam firmes e fortes
Aumentam a cada dia que passa
Minha psicose
Minha paranoia
Olha tudo a se manifestar aí
Não me curei não
Continuo o mesmo doente de sempre
O mesmo ser obcecado e pobre
O mesmo indigente
Mendigo andrajoso
As esmolas que ganho
São mais raras
Do que o pão que como
Preciso de suor
Meu rosto já não tem mais face
É uma máscara de horror
De terror e desespero
De cansaço e de derrota
De fracasso de quem luta e luta
E nada e nada
E morre na areia sem nada
Olha eu aí de novo
A começar tudo outra vez
Novamente na estaca zero
Sem guia e sem bússola
Sem rosa dos ventos  e sem nada
Só sozinho com a cara e a coragem e o medo
Sem corpo e sem alma
Sem rosto e sem face
Apenas a máscara mortuária
Apenas o sabor da experiência
E a maior maturidade
Olha meu desespero aí de novo
Vou pedir tudo novamente
Olha eu aí de novo.

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