A caminhar pelo meio do sol
Encontrei-me de repente
A caminhar pelo meio do céu
Pensei depressa desesperado
Desgraça ruim da minha vida
Foi ter nascido tão de súbito
A caminhar pelo meio
Dum mundo ardente
Ardente de fúrias
Ardente de ódios
Ardente de tão péssimo
E ardente de tão ruim
Quente de tudo quanto é mal
Quente de toda miséria
Quente de toda desgraça
Quente de toda fome
Quente de todo tudo
E frio de amor
E frio de paz
Com homens de corações congelados
A caminhar pelo meio desta porcaria
Que se chama de mundo
Encontrei-me a pensar na esquina
Duma rua sem saída
A caminhar por essa trilha
Sou um ser imundo
E fiquei ali acabado e morto
Não conseguia entender minha razão
Até que chegou a noite escura
E a caminhar pelo meio da lua
Cheguei à outra face oculta
E uma escuridão envolveu-me o ser
Assim tão depressa tenho que morrer
Nasci ontem nesse chiqueiro
Não deu tempo nem de melhorar
Não deu tempo nem de ser gente
E nem de purificar-me
O espírito e a alma
A morte suja fria
Já está a me querer cedo
Não vou poder evitar
E a falar sozinho segui o destino
Feto doido abandonado e triste
Vaguei madrugada a dentro
Fui sair à beira dum rio
Fiquei sentado em sua margem
E lá bem longe o sol começou a nascer
Uma força de arrependimento
Deu-me vontade de viver
E chorei lágrimas maiores que o infinito
Que beleza de aurora
Que beleza de sol
Vão ter que ouvir meu grito
Meu grito que vai caminhar
Meu grito louco de alegria
Pelo meio dos raios do sol
A ecoar em cada ouvido
A toca um brilho em cada coração.
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