domingo, 9 de fevereiro de 2020

"Poemas de Hoje", RJ/SD, Maria Zoião; Publicado: BH, 090202020.

Maria Zoião
Maria Zoião dormia no último quarto
Com as minhas três irmãs
E já passava de meia-noite
Então cheguei só de calção
E empurrei a porta
Tudo escuro no interior do quarto
E só uns roncos lá de vez em quando
Entrei pé ante pé
A tatear pelo escuro
Acendi a luz
Dei uma olhada com expectativa
Tudo calmo
Numa cama dormia as minhas três irmãs
Em outra dormia a Maria Zoião
Feia igual ao diabo
Mesmo assim a curiosidade foi maior
Cheguei à beira da cama
Onde dormia Maria Zoião
Fiquei quedado a olhar por uns instantes
A esperar para ver
Se notaria a minha presença
Mas Maria Zoião continuou no mesmo sono
Então cheguei-me mais
E removi bem devagar a coberta
Dormia desesperadamente
Removida a coberta
Passei a suspender a camisola 
Numa operação que exigia muita malícia
E muito cuidado
Se a acordasse
Estaria perdido
Quase sem respirar
Para não fazer barulho
Suspendia a camisola
E de vez em quando
Uma mosca teimosa
Vinha pousar
Em suas pernas
E com medo que a mosca a acordasse
Afastava-me da cama
E quando a mosca voava novamente
Recomeçava a operação
E o meu trabalho
No final da tarefa
Dei de cara com as calcinhas da Maria Zoião
Não eram bem umas calcinhas
Pareciam mais uns calções de jogadores de futebol
E para tirar aqueles calções
Não foi nada fácil
Comecei a puxar de levinho
Aqueles calções de pano grosso e bruto
Pelas pernas abaixo
Nesse meio tempo
Maria Zoião acorda aos gritos
Uai virge santa
Que diabo é isso menino?
Socorro gente
O menino está a tirar as minhas roupas
Com os gritos da Maria desesperada
Todo mundo acordou
E fui pego em flagrante
Não ia adiantar correr
Não ia adiantar esconder
Não tinha saída
Estava perdido
Minha mãe veio com todo o pessoal da casa
Meu pai e companhia
E naquela mesma hora
Começou o interrogatório
Quem foi que te ensinou a fazer isso?
Já viste o teu pai fazer isso?
Uma pergunta não esperava resposta
Outra pergunta
E para variar
Uns bons e bem quentes beliscões nas costelas
Essa arte era o forte da minha mãe
Beliscar costelas
Onde agarrava
Podia trovejar mais de três vezes
Que não soltava de jeito nenhum
E minhas orelhas nesse tempo também sofriam
Então entre algumas lágrimas e alguns soluços
Tomei a palavra a gaguejar um pouco
Sabe o que foi?
Foi a tentação
Durante o dia
Quando estava deitado na esteira
No quarto da senhora
Maria Zoião sem a menor displicência
Passou por cima da minha cabeça
E estava de vestido
E quando levantei as vistas
O que vi?
Estava sem as roupas de baixo
Fiquei impressionado com o que vi
E quis ver de perto
Pegar
Cheirar
Sentir
Nunca tinha visto nada igual
E Maria Zoião
Com toda a sua feiura
Escondia algo tão misterioso
Infelizmente Maria Zoião
Acordou na hora errada
E me pegou com a mão na massa
E foi isso que aconteceu
Não fiz nada
E não vejo nada de mais
Nem nada de mal
E no outro dia todo mundo
Ainda comentava e gozava
Com a minha cara
E perguntava pela Maria Zoião
E o couro também comeu de concha
Em meu lombo e apanhei
Igual cachorro sem dono
Igual burro quando estaca
Para poder aprender
A não mais levantar
E nem tentar tirar
As roupas das mulheres
Mas se é bom
Asseguro que é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário