quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

"Poemas de Hoje", RJ/SD, Punguista; Publicado: BH, 0190202020.

Hoje vi a polícia prender
Um batedor de carteiras
No princípio do fato
Apoiei a ideia
Mas quando estudei
Bem de perto
O pobre rapaz
Era um autêntico brasileiro
Fiquei até com pena
De baixa estatura
Mais morto do que vivo
Um esqueleto em pé
Tentou um argumento
Com a polícia
Minha mãe
Meu pai
Meus irmãos
Sou pobre
Família doente
O senhor sabe como é
Mas não obteve papo
Seguro por dois
Foi levado
Era triste de se ver
Tão mesquinha figura
Que não aguentava um tapa
À semelhança da fome
À figura viva da morte
Ser espancado
Por dois brutamontes
E esqueci até
Que o cara era um ladrão
Bem
Era mais um cadáver
Do que um punguista
Era um não sei o que
Era um pobre coitado
Era um qualquer coisa
Um miserável
Um desgraçado
Um morto de fome
Mas levou pancadas
Igual gente grande
Amanhã
Se tiver sobrevivido
Se ainda tiver olhos
Vai ver o sol
Nascer quadrado
Por muitos dias
Porque isso tudo?

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