quarta-feira, 30 de outubro de 2013

As portas não se abrem as janelas; BH, 02801002013; Publicado: BH, 03001002013.

As portas não se abrem as janelas
Também não fico de pé na esquina
A esfregar as mãos sonâmbulo sonho
Acordado quando durmo tenho
Pesadelos quando acordo sou o
Pesadelo de manhã percebo o meu
Fardo cada vez mais pesado a
Puxar-me para prender-me com a
Força de gravidade preso aqui
Não consigo fazer nada voar ser
Uma folha de amendoeira levada
Pelo vento à tarde é o mesmo evento
Uma calmaria fico na calçada
Nenhuma música ouço as crianças
Pararam de sorrir? alguém então
Está a fazê-las chorar à noite
Sem um beijo duma namorada
Não sou mais de protestar resigno-me
A cama engole-me vomita-me
A cada momento pareço um Jonas
No ventre dum peixe gigante que
Não está nenhum pouco satisfeito
Comigo a lotação do navio fantasma
Está esgotada a tripulação não
Permite mais a entrada dum
Passageiro clandestino todos ao mar
Perto da ilha de Lampedusa que
Vão a nadar em busca do próprio
Destino algum deve chegar lá para
Contar a história sou sobrevivente
Desta página ou sobremorrente é
A causa desta insônia mortal
Este afogamento cotidiano da
Única porta que se abre é a
Que leva ao fundo do mar

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