Acredito realmente que precauções se impõem com relação à música alemã.
Se alguém ama ao sul como eu, como uma grande escola de cura do espírito
E dos sentidos, como uma irresponsável abundância de sol, uma transfiguração
Radiante sobre uma existência soberana e confiante: pois bem! esse aprenderá
A pôr-se um pouco em guarda contra a música alemã, porquanto, ao lhe
Novamente o gosto, ela lhe arruína ao mesmo tempo a saúde.
Um meridional, não de origem mas de fé, deverá, se sonhar com o futuro da
Música, também que seja franqueada no norte.
É preciso que tenha em seus ouvidos o prelúdio de uma música mais profunda,
Mais potente, talvez mais maldosa e mais misteriosa, de uma música supra-alemã
Que, diante do azul do mar voluptuoso e da claridade do céu mediterrâneo, não
Se esvairá, não empalidecerá e não se enternecerá, como o faz a música alemã,
de uma música supra-européia que guardará seu direito, mesmo diante dos
Escuros ocasos do sol nos desertos, nos quais a alma será parente das palmeiras
E que poderia permanecer e se mover entre as grandes feras, belas e solitárias...
Eu poderia imaginar uma música, cujo fascínio raríssimo consistisse em nada
Saber do bem nem do mal; de tempos em tempos somente passaria talvez sobre
Ela uma nostalgia de marinheiro, sombras douradas e a ele, vindas das grandes
Distâncias as mil cores do acaso de um mundo moral tornado quase
Incompreensível e que fosse bastante hospitaleiro e bastante profundo para
Recolher esses fugitivos atrasados.
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