Enquanto respirais escrevo o mundo vive escrevo
O universo existe escrevo a humanidade se extermina
Escrevo a letra a palavra a frase o verso a estrofe o
Poema enquanto as bombas atômicas são construídas
Escrevo enquanto a guerra extermina palestinos israelenses
A matar homens crianças mulheres escrevo com a
Pobreza a miséria a desgraça a destruição a fome a
Violência a injustiça escrevo às vezes nem sei o que
Às vezes nem leio tenho até vergonha não acredito
Não creio o medo é maior a covardia maior ainda
Porém penso que tenho um consolo tenho algo na
Frieza das trevas um ponto na calota secular polar
Na composição do infinito iceberg escrevo não me
Mantenho à tona vou ao fundo estou submerso
Sufocado sem poder respirar não ouço mais os
Cantos dos pássaros esqueci das flores das cores da
Luz sei que independente de tudo o Sol nascerá
Brilhará a Lua aparecerá refletirá sobre nós a luz do
Sol tudo será eterno enquanto existirmos pois as
Coisas mais insignificantes permanecem enquanto viramos
Pó levado pelo vento na poeira sei que não penso
Escrevo não existo escrevo não sou nada nunca
Serei nada não quero ser nada me deixeis sozinho
Só a não querer ser nada a não ser nada escrevo
Isto é só isto sou isto era isto será o que sou
Quando meu esqueleto vier se tiver esqueleto não
Quero esquife quando minhas carnes secarem
Desaparecerem se é que tenho carnes não quero
Privilégios os privilégios serão dos vermes que as
Revolverão na ânsia na angústia da devoração que
Serão meus roedores as minhas traças pois sou um
Alfarrábio sou um livro velho antigo sou um manuscrito
Um inútil fragmento de gente um pergaminho que não
Carrega a verdade um escrito vazio de realidade fora
Do tempo fora da época da ética da razão sou um
Documento na torre de Tombos nos labirintos das mais
Espetaculares bibliotecas nos recônditos da Velha Europa
Da Grécia do Japão da China com seus bilhões de sous
Da Índia Paquistão Bangla Desh os segredos do Egito
Dos Maias dos Incas dos Astecas dos índios dos africanos
Dos aborígenes de todos os povos mais antigos da Terra
Enquanto é feito um parto escrevo a mãe amamenta o filho
Morre escrevo a natureza desconheço a natureza o azul
Do céu as nuvens o ar meus pulmões escrevo a chuva
Da chuva o arco-íris o calango no muro o besouro a
Joaninha a borboleta escrevo o quê sou? não sei
Responder quem não sabe fica calado não fala escreve
Quem não existe quem não tem quem não é nada a não
Ser sombra projetada escreve na penumbra no eclipse na
Órbita na trajetória da elipse quem não deixa marcas não
Ama não beija não goza não tem orgasmo clímax vive
Da timidez escreve pois não vive, não é o viver não sabe
Viver não sabe escrever não respeita a escrita o pensamento
O espírito a alma a cova a sepultura o profano o sagrado o
Sepulcro enquanto gira a roda escrevo nem sei se escrevo
Se sonho se vivo ou se tenho um pesadelo estou vivo? ou
Aquele reflexo ali é só o meu cadáver? é só o meu baú do que
Sobrou com o que não escrevi? não sei responder nunca soube
Responder nada não sei a solução nunca soube solucionar
Nada nunca matei a vontade de nada sou só assassino
Covarde mórbido hediondo sou só um matador da beleza
Da literatura da poesia toda cadeia é pouca para mim nas prisões
Nenhum comentário:
Postar um comentário