Pega na lira sonora,
Pega, meu caro Glauceste;
E ferindo as cordas de ouro,
Mostra aos rústicos pastores
A formosura celeste
De Marília, meus amores.
Ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
Que concurso, meu Glauceste,
Que concurso tão ditoso!
Tu és digno de cantares
O seu semblante divino;
E o teu canto sonoro
Também do seu rosto é dino.
Ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
Para pintares ao vivo
As suas faces mimosas,
A discreta natureza
Que providência não teve!
Criou no jardim as rosas,
Fez o lírio, e fez a neve.
ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
A pintar as negras tranças
Peço que mais se desveles,
Pinta chusmas de amorinhos
Pelos seus fios trepando.
Uns tecendo cordas deles,
Outros com eles brincando.
Ah pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
Para pintares, Glauceste,
Os seus beiços graciosos,
Entre as flores tens o cravo,
Entre as pedras a granada,
E para os olhos formosos,
A estrela da madrugada.
Ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
Mal retratares do rosto
Quanto julgares preciso,
Não dês a cópia por feita;
Passa a outros dotes, passa,
Pinta da vista, e do riso
A modéstia, mais a graça.
Ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
Pinta o garbo de seu corpo
Com expressões delicadas;
Os seus pés, quando passeiam,
Pisando ternos amores:
E as mesmas plantas calcadas
Brotando viçosas flores.
Ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
Pinta mais prezado amigo,
Um terno amante beijando
Suas douradas cadeias;
E em doce pranto desfeito,
Ao monte, e vale ensinando
O nome, que tem no peito.
Ah! pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
Nem suspendas o teu canto,
Inda que, Pastor, se veja
Que a minha boca suspira,
Que se banha em pranto o rosto;
Que os outros choram de inveja,
E chora Dirceu de gosto.
Ah pinta, pinta
A minha Bela!
E em nada a cópia
Se afaste dela.
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