Saibais quantos este depoimento virdes ou lerdes que
Nada de novo tenho para dizer nem de revolucionário
Nem de radical pois tudo já se foi dito pensado no
Mundo no universo novidade nenhuma surge
A essência acabou a vida é morte a fragrância
Cheira mal a cultura virou lixo o intelectual
Padeceu pela falta de interesse pela procura
Doutros espaços por aqueles que desistiram abriram
Mão do conhecimento da sabedoria da inteligência
A humanidade empobreceu cada vez mais o homem
Diminuiu virou pasta derreteu-se ficou invisível
Enclausurado no casulo perdeu a oportunidade da
Metamorfose perdeu o pique a fantasia da masturbação
Do onanizar mecânico perdeu a patente do próprio
Invento o vento não sopra mais na inspiração da razão
Se perde tal criança perdida na poeira da areia do
Deserto tal leãozinho desgarrado a morrer de fome
Longe dos pais sem proteção sem cuidados suficientes
Não adianta tentar procurar a encontrar uma forma
Uma fórmula que sirva para justificar a falta de
Capacidade competência a falta de ânimo
Força de vontade paixão fé: só um iceberg jogado
À cratera do vulcão em atividade, em erupção;
Do resto nada poderemos esperar, a não ser a hipocrisia,
A demagogia, a falsa atividade da mentira, de
Quem faz para o espelho, faz para a mídia, para a
Valorização superficial, inócua, vazia, pobre;
É por isso que não sei, e nem quero dizer nada, pois
As palavras são vãs, fracas, inúteis, e não comovem;
As palavras são velhas, e as novas são desconhecidas,
E as que estão na moda, morrem cedo, não são
Resgatadas nas nossas memórias; e as gírias usadas
Não nos confortam o espírito, e nem refrigeram a alma,
E ao andarmos no vale da sombra, e da morte, temeremos,
Por que dos bons, Deus nos livrará, e dos maus o Diabo
Nos livrará; reagiremos, e agiremos de acordo com os
Princípios básicos que compõem a formação humana;
Estou lá embaixo, no rés-do-chão, ao pé de
Mim, estou a mastigar a carne nervosa, crua
Na autopsia adquirida numa mesa de necrotério;
O corpo ainda se encontra vivo, aberto, a sangrar,
O espírito ainda não vingou, não vigorou, e foi banido,
Expelido num parto dos mais dolorido; a criança estava de
Costas, a cabeça do lado contrário, voltada para cima;
Morri neste parto inútil, morri na dissecação,
Com o mesmo medo de sempre, com a
Mesma covardia conhecida, e não fui, e
Nem parti para sair da mesa eterna do
Altar profano, amaldiçoado, do púlpito violado,
Excomungado por todos os papas das religiões;
Torturado por todos os inquisidores da hóstia consagrada,
Da água benta, dos milagres, das penitências;
Do capital liberal lavado no átrio do templo,
Da igreja de cifras, e lágrimas, e choros, e pecados;
O arrependimento, e a salvação, e tudo o
Mais que todo poder do dinheiro pode comprar;
Prefiro neste depoimento, me livrar de minha
Língua, e me livrar das minhas palavras,
Alimentar meu silêncio turbulento, de chumbo
Pesado tal o precipício sombrio feito raios de
Sol que caem resolutos pelos buracos das nuvens.
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