Não quero ser nada não nasci para ser ao não ser
Nada faço questão de morrer para não ser
Nada que mania que todos têm de quererem ser
Todos? não quero ser nada já disse que não
Quero ser nada deixai-me ser nada sozinho
Quereis tudo quereis ser tudo mas há os que
Não querem ser nada há os que só encontram-se
No nada não fazem o bem nem fazem o mal
Não são os bons nem são os maus penso
Que nasci desses raros tipos de espírito quanto
Mais luz mais procuram as trevas quanto mais
Claridade mais esquivam-se para os breus das
Absurdidades se quiséreis as minhas negras
Letras as ofereço-vos se quiséreis as minhas
Malditas palavras acalentai-vos com as tais
Sejais tudo que tiverdes de ser tenhais tudo
Que tiverdes de ter não causais-me nenhuma
Inveja nem cobiça toda bola que chuto bate
Na trave toda bolada que levo é no saco
Toda porrada é na cara meus pés descalços
São pisados por tacões de botas minhas
Costas retalhadas a açoites vergões chicotes
Chibatas nunca aqui quis ser nada para
Não precisar contar uma história uma
Vantagem para fazer qualquer um de nada
Há sempre alguém para contar uma história
Há sempre alguém para contar uma vantagem
Para pisar em pés descalços com tacões
Para retalhar costas amarradas em pelourinhos
Com relhos cabrestos de aço para não ser
Nada o que é que faço?