Sento-me à mesa como se fosse fazer
O primeiro almoço, o prato está à minha
Frente, vazios os dois; espero que seja
Servida a refeição e não tenho fome,
Bebo do vinho e não como do pão; a refeição
Veio quente e chegou à minha boca fria,
Mais frio estava o meu estômago; imprudente,
Sirvo outra taça, o vinho tinge de vermelho o
Meu sangue; o pão amarga, molho-o no
Vinho sangrento, levo-o à boca, vinagre;
Vinho sangrento, levo-o à boca, vinagre;
Com tanta luz, não enxergo nada, com tanto
Calor, sinto frio; o garfo não saiu do lugar,
Olhei através das vidraças das salas, vi os
Vitrais dos prédios, pessoas que nunca
Pareciam ter comido comida, comiam
Como se fossem comidas; perdido, perdi
A fome que não tive; o vinho não matou
Minha sede; bolo de levedo formou-se no
Estômago, deixei a mesa, fui à sala, como
A porta estava aberta, se a havia trancado?
Buzinaram no portão em frente, rangido,
Batido, latido; a tarde morria em agonia
E em angústia afoga-me no tédio; vi com
Ansiedade no olhar que inda estava
Sozinho e todos os olhares das janelas,
Olhavam-me reprovadores; o estômago
Doeu, a trazer-me de volta à falsidade;
Salivei como se fosse vomitar, mordi os
Lábios, passou a ânsia; acendi aquele
Cigarro que estava guardado há tanto
Tempo na cigarreira; lembrei que
Teria que passar à tabacaria, saí à rua,
A multidão engoliu-me e anônimo,
Anômalo, virei a esquina do nada.
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