Açularam-se os cães do mundo
Sobre os meus ossos
Incitaram-se os cães a morderem
O que sobrou do meu esqueleto
Irritaram tanto aos cães
Que cada um saiu a correr
Com um pedaço de mim
Preso nas mandíbulas
Provocaram tanto aos cães
Que ladraram a noite toda
Não me deixaram dormir
Dentro do meu caixão
No fundo da minha sepultura
Revirei-me eternamente
Sem me sossegar
Encontrar a paz num desassossego
Para não açular o pranto
Que a dor dos espinhos causavam
À minha negra alma
A dor do aguilhão enterrado
No centro do meu espírito
No alto do meu crânio
Dentro da minha mente
Um acúleo incandescente
Que não me dava nem o incentivo
De morrer serenamente
Morrer sem o processo de assimilação
Da cultura que me cerca
Morrer cego pela falta que resulta
O contato o intercâmbio
Entre dois ou mais
Grupos sociais distintos
Que vêem no intelecto
A aculturação indispensável
Da resistência do clássico
À sobrevivência do erudito
A salvação do pensamento
A linguagem evolutiva
Que salva o homem comum
De ser lançado igual indigente
Ao fundo duma simples sepultura
Dum mega cemitério
Duma megalópole sombria
Onde nem a carne escapa dos vermes
Ou ossos escapam dos cães
As almas escapam do inferno
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