terça-feira, 16 de abril de 2019

Antigo XIX, Esqueleto vivo; Publicado: BH, 02801102011.

O canário morre de sede na gaiola
O resto de pão endurece na sacola
Pendurada atrás da porta
O sol seca tudo lá fora
Com uma luz que cega os olhos
Um calor que seca a língua
Dá preguiça depois do falso almoço
O homem da seca
Esquecido lá dentro
Tenta viver em vão
Só o seu esqueleto tem vida
Um dia não aguenta mais
Pega a sacola
Pega a viola
Vai para o sul com a família
Chega no sul
Não encontra emprego
Não encontra onde morar
Vive pelas calçadas
De cidade em cidade
Passa fome perde sua
Honra do mato do sertão
Pede esmola pelo amor de Deus
Homem da terra de lá
Do sul sente vontade de voltar
Mas não vê como
Ninguém quer olhar
Homem seco
Esqueleto vivo
Porque vieste para cá?
Porque não ficaste para morrer lá?

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