sexta-feira, 11 de março de 2011

Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, Regresso ao Lar; BH, 0110302011.

Há quanto tempo não escrevo um soneto
Mas não importa: escrevo este agora.
Sonetos são infância, e, nesta hora,
A minha infância é só um ponto preto.

Que num imóbil e fútil trajecto
Do comboio que sou me deita fora.
E o soneto é como alguém, que mora
Há dois dias em tudo que projecto.

Graças a Deus, ainda sei que há
Catorze linhas a cumprir, iguais
Para a gente saber onde é que está.

Mas onde a gente está, ou eu, não sei,
Não quero saber mais do que mais
E berdamerda para o que saberei.

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