terça-feira, 13 de setembro de 2011

Torquato Neto, Explicação do Fato, parte I; BH, 0130902011.

Impossível envergonhar-me de ser homem.
Tenho rins e eles me dizem que estou vivo.
Obedeço a meus pés
E a ordem é seguir e não olhar à frente.
Minúsculo vivente entre rinocerontes
Me reconheço e falho
E insisto.
E insisto porque insistir é minha insígnia.
O meu brasão mostra dois pés escalavrados
E sobram-me algumas forças: sei-me fraco
E choro.
E choro e nem assim me excedo na postura humana:
Sofro o corpo inteiro, pendo e não procuro
A arma em minhas mãos.
Sei que caminho. É só.
Joelhos curvam-se, amaziam ao chão que queima
E me penetra e eu decido que não posso
Envergonhar-me de ser homem.
A criança antiga é dique barrando o meu escôo
E diz que não, não me envergonhe.
Não me envergonho.
Tenho rins mãos boca orgão genital e
Glândulas de secreção interna:
Impossível.
No entanto sinto medo
E este é o meu pavor.
Por isso a minha vida, como o meu poema,
Não é canto, é pranto
E sobre ela me debruço
Observando a corcunda precoce
E os olhos banzos.

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