terça-feira, 6 de setembro de 2011

Meu destino é frio e geloso; BH, 0290602000; Publicado: BH, 060902011.

Meu destino é frio e geloso,
Pois não tenho o espírito ardoso,
Um anseio ardente e nem sinto,
A chama queimante da paixão,
No meu peito sem esperança;
Picante é só a arduidade,
O caráter do que sei que é árduo,
Por saber que não tenho um ardume,
Que não tenho a qualidade do que é ardoroso
E que perdi o ardor pela vida;
O queimor pelo amor, pelo sexo
E que só me resta a extinção;
Como a do meu irmão aré,
Indígena da tribo tupi-guarani
Dos Arés do rio Iraí, os quais a si
Próprios dão o nome de Xetã;
Se uma areação me salvasse,
Acabasse com meu areão interior,
Num arejo de brisa e ar,
E um bosque de arecas, um arecal me cercasse,
Num frescor arecíneo e calmante,
Mudaria todo o meu destino;
E o arecunã, da tribo dos aracunás,
Do alto do rio Branco, dos Caraíbas;
E na nossa história também, sei bem,
Sabemos transformá-la em arenáceo;
Nossa saga é castelo de areia,
Não temos natureza de sangue, de
Terreno fértil e sem ser arenado;
A fibra que carregamos
É a mesma da arenária,
Planta da família das Ciperáceas,
Com raízes no arenato,
Em cuja composição entra
Areia; e as nossas pedras são de grãos
Cristalinos no terreno areento, que não
Permitem as raízes firmarem para a
Vida; e aí é só o fim.

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