quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Guimarães Rosa, Saudades, Sempre; BH, 0150202012.

Sempre, (Versão aflita)

Alma é dor escondida
O coração existe
Animal a um canto
 - O triste.

Posso pecar contra ti
Ingenuamente
Há fogo, o fundo
O instante, não,
O esquecimento
É voluntária covardia.

Guimarães Rosa;
Pescaria;
Publicado: BH, 0260302013.

O peixe no anzol
É kierkegaardiano
(O pescador não sabe,
Só está ufano).
O caniço é a tese,
A linha é pesquisa:
O pescador pesca
Em mangas de camisa.
O rio passa,
Por isso é impassível:
O que a água faz
É querer seu nível.
O pescador ao sol,
O peixe no rio:
Dos dois, ele só
Guarda o sangue frio.
O caniço, então,
Se sente infeliz:
É o traço de união
Entre dois imbecis…

Guimarães Rosa,
Distância;
Publicado: BH, 0310302013.

Um cavaleiro e um cachorro
Viajam para a paisagem.
Conseguiram que esse morro
Não lhes barrasse a passagem.
Conseguiram um riacho
Com seus goles, com sua margem.
Conseguiram boa sede.
Constataram:
Cai a tarde.
Sobre a tarde, cai a noite,
Sobre a noite a madrugada.
Imagino o cavaleiro
Esta orvalhada e estrelada.
O pensar do cavaleiro
Talvez o amar, ou nem nada.
Imagino o cachorrinho
Imaginário na estrada.
Caía a tarde.
Para a tarde o cavaleiro
Ia, conforme avistado.
Após, também o cachorro.
Todos – iam, de bom grado,
À tarde do cavaleiro
Do cachorro, do outro lado
- Que na tarde se perderam,
No morro, no ar, no contato.
Caiu a tarde.
  

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