terça-feira, 10 de novembro de 2015

MIKIO, 1; BH, 0300102013; Publicado: BH, 01001102015.

Sempre sonhei muito alto e quando
Acordava não havia passado do
Rés do chão; sempre voei para cima
E Ícaro, despencava das alturas e caia
Nos despenhadeiros; sempre pensei
Existir, mas a ramagem, a folhagem
Da erva daninha fazia-me retornar
Às minhas raízes; enquanto as pedras
Movem-se, os morros trocam de lugar
Com as montanhas, permaneço plantado,
Um tronco que poderia ter sido uma
Frondosa árvore; olham-me de longe
E escuto o zumbido do vozerio: que pé
De pau estranho, não serve nem para
Lenha de fogão; e deixam-me ali,
Com o meu toco, como um marco erguido
À inexistência; e ali fico a pegar
Fuligem, a secar, a envelhecer e
A ver aumentarem a estupidez e a
Ignorância que não deixam-me
Frutificar; e as raízes, por mais profundas,
Não encontram mais seivas e os
Elementos não fazem mais sentidos
Para mim; e os organismos são-me
Imperceptíveis; a areia emperra as
Veias da minha ampulheta e o tempo
Não regista mais as horas nos ponteiros
Das paredes; o que marca alguma coisa
É a sombra do tronco na poeira do
Chão, enquanto o sol faz o seu movimento;
E o tempo não para para deixar-me respirar,
Segue sempre adiante, sem voltar a
Cabeça atrás; e das pessoas que foram
E das que éramos, não vamos nos
Encontrar nunca mais.

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