Esgotaram-se todas as fontes mananciais
Nascentes nem chorar o ancião chora
Mais agora são só lamúrias lamentações
Gemeções quando tem alguma força
Clama pela morte agarra-se pelos lençóis
Da vida as paredes estão gravadas de
Murmúrios os tetos forrados de sussurros
No forro reverberações de outrora
Como dói um passado mal curado uma
Vida perdida em feridas crônicas em
Úlceras venosas incuráveis coração
Chagado peito sufocado asfixiado pelo
Catarro eterno que para expeli-lo quase
Que os pulmões vêm juntos a boca é
Amarga fétida o hálito azedo os beijos
Doces idos jazem esquecidos nalguma
Latrina de fundo de retrete aquela pele
Plástica elástica brilhante hoje pelanca
Que gato de beco escuro recusa os
Músculos que emolduravam carne
Fresca viva foram digeridos pelo tempo
Fantasmagórico um sobrenatural em
Cima dum colchão mete medo o senil
A quem passa não o viu arfa para dizer
Que inda sobrevive cospe baba tudo é
Nojo asco repulsão já não se recorda
Mais dos filhos dos quais era cercado
Esqueceu nomes lembranças memórias
De tudo que era útil só o inútil forma
O ser à espera da hora derradeira um
Passarinho pousou no umbral o velho
Tomou um susto não viu a luz do sol
Que queria ferir seus olhos os lábios
Numa sepultura aberta as ventas duas
Lápides sem epitáfios arrombaram a
Porta levaram aquilo a ser cremado
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