Não dou decisão
Pois sou sem decisão
E nem sou decidido
Sem atitude sigo o vento
Sem destino sigo o sol
E me guio pela lua
E me entrego às estrelas
E me envolvo pelo ar
E engulo o ar
Até a garganta engasgar
Até explodir meu ego
E a noite vem
E a noite é o meu véu
O dia minha roupa
No almoço como amor
Na janta bebo paz
Paz pura e azul
Paz macia e doce
Não falo a ninguém
Não falo com ninguém
Se falar não faço
E se resolvo me dissolvo
Num mar de cuspo
Num copo de sangue
Num gesto sangrento
Sou solúvel
Até à alma
E minh'alma
Se enche de pus
E de luz podre
E mal cheiroso
Não dou empurrão
Não estendo a mão
Não dou ordem
E nem sou capitão
Bebo a chuva
Bebo o orvalho
Nado em minhas lágrimas
E me enxugo nas flores
E se existisse flores
Não piso em espinhos
Não como espinhos
E tenho espinhos
Bem aqui dentro de mim
Que estão sempre a me espinhar
No meu coração
Não dou decisão
Nem dou opinião
Quem quiser
Faça por si
Não sei o que
Não perguntes a mim
Não faço por mim
Nem por ninguém
Quem quiser fazer
Faça
Quem quiser ouvir
Ouça
Porque não quero
Não tenho ouvidos
Não tenho mãos
Não tenho boca
Não tenho olhos
Não tenho nada
Não tenho corpo
Não tenho cara
Porque não me deram
Não me fizeram
Como deveria ser feito
Saí errado até o cabo.
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