terça-feira, 4 de agosto de 2015

MIKIO, 169; BH, 0210502013; Publicado: BH, 040802015.

A cada dia fica mais demorado o dia,
O trânsito não anda,
Nada funciona
E a máquina emperra-se;
O serviço não rende,
O dinheiro não basta
E nem com a bunda se tem mais satisfação;
Troca-se de bunda,
De peitos,
De defeitos;
Camaleão,
Troca-se a pele toda
E olha-se ao espelho
E indaga-se:
De quem aquela imagem lá no fundo?
E é aí que não se conhece-se a si mesmo,
Nunca,
Depois de tantas trocas,
Tantas mudanças,
Transplantes,
Implantes:
Qual é a identidade daquele elegante?
E faz-se um mapeamento genético,
Encadeia-se o genoma,
Uma contagem de cromossomos,
E com toda a mistureba,
Não se sabe o nome da ameba;
Micróbio não identificado,
Vírus desconhecido;
Germe irreconhecível,
Verme doutros organismos;
A cada dia que passa,
Conectar o dia é pior,
Mantenha-se à distância,
Ainda há tempo de salvar-se em vida;
Ainda há tempo de sair-se do universo,
Há uma flor num vaso,
Um tico-tico num jardim,
Um colibri encantador;
Inda há tempo de salvar-se,
Há uma abelha numa colmeia a fazer o mel,
Um calango no muro,
Um urubu a adejar o firmamento;
A cada dia que passa,
É melhor deixar passar o dia,
Para sentir o dia passar.

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