terça-feira, 10 de agosto de 2021

Ao poeta; RJ/1977; Publicado: BH, 0100802021.

Ao poeta
Morte
Ao poeta
É vida
Vida
Ao poeta
É morte
Ao poeta
Viver é morrer
Ao poeta
Morrer é viver
Ao poeta
A mulher é imaginária
Ao poeta
Não existe mulher
Ao poeta
Não tem mulher
Porque mulher alguma
Está à altura
De desfrutar o amor
Dum poeta
Ao poeta
Amor é ódio
Ao poeta
Ódio é amor
Ao poeta
Amar é odiar
Ao poeta
Odiar é amar
Ao poeta
O poeta é um deus
Ao poeta
O poeta não é um ser comum
Ao poeta
O poeta está
Muito além
Do tempo atual
Ao poeta
O poeta não está nem aí
Ao poeta
Não existe quem mereça
A companhia dum poeta
Ao poeta
O poeta não tem sexo
Ao poeta
Sexo é poesia
Só poeta
Sexo é poema
Ao poeta
O poeta não tem
Estímulo sexual
Ao poeta
O orgasmo do poeta
São as rimas
E as inspirações
Que ejacula
Na folha de papel
Ao poeta
Nada é tudo
Ao poeta
Tudo é nada
Só poeta
Um poeta não se cria
Um poeta não se faz
Um poeta não se forma
Um poeta não se transforma
Ao poeta
Um poeta já nasce feito
Só poeta
Um poeta já nasce criado
É tecido no útero
Chega só mundo
Com o destino traçado
Ao poeta
Ser poeta é desde o momento
Que sentiu o primeiro
Raio de luz a quebrar
A escuridão que o envolvia
Ao poeta
A primeira poesia foi o gesto
De levar a mão fechada ao olho
Ao poeta
O primeiro poema
Foi seu primeiro choro
Ao poeta
Ser poeta é ser criança
É ser um anjo
É estar além do esquema
Traçado pelos mortais
Ao poeta
Ser poeta é ser superior
É saber ser
É saber emancipar o espírito
Além da dor
Além do mal e do bem
Muito mais além do amor.

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