terça-feira, 3 de agosto de 2021

O gato preto; RJ/1977; Publicado: BH, 030802021.

O gato preto
Amanheceu morto
No quarto escuro
Era um gato danado
Destá que
Não vou te esquecer
Tinha um medo
Do gato preto
Um respeito
Do silêncio soberbo
Era um rei negro
Do quarto escuro
Ninguém se atrevia
Metia pavor
Com olhos de brasas
E não tinha
Receio de nada
Com pele de breu
Chegava a brilhar
Na escuridão do quarto
Era um gato mal assombrado
Amanheceu duro
Teso igual a um pau
Pescoço torto
Igual a um pedaço
De galho retorcido
Os olhos abertos firmes
Fitos no infinito
Duas pérolas negras
Sem brilho
Tranquilos
Pacíficos
Já não metiam medo
Era um gato preto danado
Destá que
Não vou te esquecer
O quarto escuro era seu
Morreu ali
Dentro da cômoda velha
Onde morava
Dentro do quarto escuro
O gato preto
Duro de morto.

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