Não me resta resto do resto da vida
E nem me resta vida sem sabor de morte
A dor é sempre profunda na face do corte da
Navalha que retalha os retalhos da ferida e
Não há sobra nem um pingo de amor e paz e
Nem os farelos que ficam no fundo do saco
Quero para tapar o buraco do meu dente e
Nada não me deixaram uma lição qualquer e
Nem me ensinaram a lei da sobrevivência e saí
Pelo mundo igual cego sem bengala sem guia
E até hoje vago na imundície desta porcaria
Por não encontrar o caminho que um dia
Vai me trazer a razão de viver e de ser e já
Sei decorada toda a razão do meu cotidiano
E quando chego em casa estourado só me
Resta vontade de morrer de noite para não
Dormir em pesadelo infernal a sonhar
Sonhos de loucuras mil e quando termina a
Morte e ressuscito sou um defunto mais
Morto do que vivo na noite anterior e me dói
Todo o cadáver alquebrado e procuro e não
Encontro a minha sepultura e me sobe à face
A cólera da amargura e odeio este mundo e
Está humanidade sem sal e me odeio mais
Ainda por não ser o sal para salgar esses
Espíritos flácidos e frágeis e perecíveis para
Que não apodreçam também e saio para a
Rua igual a um esqueleto sinistral de caveira
Sobrenatural e foge de mim a barata que
Encontro na calçada a procurar um lugar
Qualquer para se esconder em segurança e
Porque tens medo de mim barata angelical?
A minha formação está mais horrenda do
Que a tua? perto de mim és uma santa pura
Vigem puta com toda a tua beleza e aspecto
Divinal e tenho que me esconder de ti e me
Envergonhar e ter medo de ti e fugir de ti e
Sumir de tua presença soberba e não sou
Digno de olhar para uma simples barata
Numa simples calçada e nem mereço comer
O resto do resto da tua comida porém os
Meus restos mortais podes devorar se não
Sentires nojo das minhas carnes podres ou
Então podes procurar algo melhor para
Comer e pobre barata desiludida e também
Abandonada nessa calçada e resto de mim
Sou mais infeliz do que tu que pelo menos
Tens a honra de ser uma barata e o que sou?
Sou mais infeliz do que o infeliz que não
Sabe que é infeliz e não me resta resto do
Resto desta minha vida e nem me resta
Minha vida sem sabor de minha morte e no
Dia no qual me restar amor nesta minha vida
Então serei o meu eu e o meu firme e o meu
Belo e o meu forte e mais forte do que o
Próprio pau da peroba e muito mais forte do
Que o próprio pau do jacarandá e bem muito
Mais alto do que o próprio céu e bem muito
Mais profundo do que o próprio mar do universo
Nenhum comentário:
Postar um comentário