domingo, 15 de agosto de 2021

Revelações; RJ/1977; Publicado: BH, 0150802021.

E hoje particularmente estou muito triste mesmo
E estou com saudades duma coisa que não sei o que é
E estou a sentir falta dum abrigo qualquer que perdi
E hoje é sábado e me encontro só e sozinho e
Fumo apenas um cigarro que é a minha companhia
E o mesmo cigarro já está a chegar ao fim também
E já tomei um litro de cinzano e não surtiu efeito algum
E este aperto no peito cada vez me sufoca mais
E talvez gostaria mais era de estar lá no meu estado
Na minha cidade natal no nordeste de Minas Gerais
E assim não me sentiria tão mal assim e não
Tenho coragem de voltar para lá e então
Tenho que aguentar por aqui mesmo toda
Esta dor que estou a sentir aqui agora e não
Consigo pôr para fora da minha garganta
Tudo aquilo que se encontra preso lá dentro
E bem lá no fundo de mim e não consigo me
Coordenar e coordenar minha vida também
E não consigo me fazer ou fazer nada do que
É necessário e acabar esta tristeza boba e
Mortífera e fora de época porque não quero
Morrer agora de tristeza e só quero morrer
Quando chegar a hora e espero que a minha
Hora chegue atrasada mais do que sempre cheguei
E não estou com muita pressa para poder morrer
E estou a sentir ainda muita falta do meu pai
E estou a sentir ainda muita falta da minha mãe
E nunca fui um bom filho para os meus pais
E nunca consegui fazer nada e me desgarrei
E me perdi cedo pelos caminhos tortuosos
Das sarjetas da vida e nem sei porque sou assim
E porque comigo foi assim e não sei porque
Só consigo ser tão ruim e sem um ângulo de melhora
E sem um caminho que me leve à uma vida útil
E sem um caminho que me leve a fazer o bem
E a ser  bom e gentil e cortês e delicado e alegre
E tranquilo e sei que realmente não sou nada disso
Que todo ser normalmente sonha um dia em ser
E sei que não sou nada daquilo que aparento ser
E sou justamente aquilo que um homem disse
Para mim uma vez quando discutíamos  no
Interior dum cartório no centro da cidade e
Virou para mim aos gritos e cheio de gestos e
De exaltações e de raiva e de ódio e tu aí
Barbudo manjado e Indolente não és ninguém
E és uma imitação de gente e és nojento e
Chato e não queres nada e não vou com a 
Tua cara e és isso aqui que estou a pisar agora no chão
E bateu com os pés no cimento da sala onde estávamos
Como se pisasse algo repente e sujo de verdade
E continuou a falar com a maior cara de asco
Que já vi numa pessoa e olha barbudo és um
Merda barbudo não és nada e nem és de nada
E pensas que estás com o rei na barriga e só
Fiquei a olhar para a cara dele de boca aberta
E não disse nada nenhuma palavra pois falava
A verdade e já sabia disso e recebi na cara
Aquelas palavras doloridas e duras e
Realmente a verdade sempre dói e machuca
A gente e quase que agradeci ao homem pelo
Sermão que me pregou aos brados e quase
Que agradeci por me dizer tudo aquilo e
Fiquei tão emocionado que perdi a voz e
Palavras algumas saíram da minha boca por
Mais que tentasse e não fiquei com raiva e
Nem com ódio ou constrangido e se a gente
Pudesse encontrar pela vida pessoas sempre
Assim e que jogasse na nossa cara a verdade
Verdadeira e que falasse sinceramente tudo
Aquilo que somos e nos conheceríamos 
Melhor e mais porém gente assim igual
Àquele homem é difícil de se encontrar e nem
Todo mundo diz na cara da gente aquilo que
A gente é e ainda há pouco tempo estava triste
E com saudades das pessoas que amo e adoro
E agora já passou toda a tristeza que carregava
Comigo e novamente estou alegre e descontraído
E desinibido e graças às lembranças das revelações
Daquele homem e de saber que tudo anda bem
Com meus entes queridos e amados e todos
Estão vivos e a gozar plena saúde e estão
Felizes e em paz e tranquilos é bom saber que
Tudo corre bem e que as nossas pessoas estão
Seguras e tanto as que conhecemos e as que
Não conhecemos e tanto as que existem no
Mundo inteiro e às quais amo de todo coração.

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