Que poeta boquirroto é este? não tem nada
De barroco, não tem nada de cubismo,
Fase azul, ou de surrealismo; que
Poeta bancarrota, não tem nada de
Gótico, de neogótico, de figurativo,
Impressionismo, ou renascentista, ou
De concretismo; que poeta morto é este?
Não tem poética, um soco inglês em
Cada mão, uma bota de bico de aço em
Cada pé; perdeu a ternura, perdeu a
Razão, porco-espinho em ação, almofada
De alfinetes no coração; decapita as
Rosas, decepa os cravos. degola os
Jasmins, viola sepulturas em jardins;
Publica livros cheios de obras-primas,
Antologias compostas de obras de arte,
Academicista, catedrático supremo; perdeu
A luz, afogou-se no pus, que poeta sem
Universo, se ainda tivesse pelo menos como
Uni verso, um universo, igual todo ser tem,
Um infinito no bolso, um horizonte ao
Alcance das mãos, um morro na cacunda;
Uma montanha no cangote, um monte em
Cada ombro, uma cordilheira na coluna
Vertebral, seria um vertebrado imortal, mas,
Invertebrado mortal, falta-lhe a coluna
Cervical; que poeta fraco, não vence uma
Força de gravidade, sai de cena e o
Firmamento fica, sai do ato e a peça
Continua e a engrenagem da máquina não
Para, com a ausência do poeta presente,
Que não é notado nunca; debate-se no
Espaço a fingir-se de vivo, voa grande
Pássaro a adejar o azul do céu e um
Passarinho azul ofusca-lhe sua obra em
Viagem para o beleléu; e diante de
Silhuetas, sombras, simulacros,
Assombrações, vultos, penumbras, deuses,
Santos, santas, espíritos, almas, seres do
Limbo, fantasmas, ectoplasmas, o poeta
Enfia o rabo de cachorro vira-latas entre
As pernas e a chiar feito canário foba,
Desaparece atrás do átomo.
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