Um poço vazio e uma cisterna abandonada e uma cacimba
Sem água, açude seco, ribeirão de areia, córrego
Sem água, açude seco, ribeirão de areia, córrego
Que não corre mais, regato que não rega no ato,
Riacho que não rir, acho, represa de lama morta,
Reservatório de barro que não presta para moldar
Bonecos, que os mestres moldavam antigamente,
De bichos e de gentes; pote de pó, talha de poeira,
No canto, o cantil senil, na parede, dependurado
Atrás da porta, o alforje puído e as calças de
Algibeiras furadas; as botas surradas no chão de
Terra batida, tórridos torrões esfarelados; o tempo
Parado, o vento cruzou as pernas e os braços, as
Nuvens escafederam-se do céu e um azul de doer
Fundo de olhos trevosos, abraçou a imensidão;
Flores teimosas que pediam chuvas, morreram de
Sede, vodus de encruzilhadas para tempos melhores,
Jaziam esquecidos; e toscos tocos olhados de longes,
Na reverberação panorâmica, relembravam
Entidades sobrenaturais; tudo cansava a vida e
Toda morte estava cansada de matar e a própria
Morte morreu com suas reminiscências; e como
Se tivesse tomado um chute no saco, um soco na
Boca do estômago, ou tido um dente arrancado
Na bruta, por um dentista desastrado; o sol
Ofendeu-se na fenda da serra e uma noite de
Espantar espantalhos, pesadelos, petrificar sonhos,
Adormece a natureza mórbida, dum sono
Desértico e o artista, num último retoque do
Óleo sobre tela, assinou a obra e dormiu aliviado.
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