Sentimentos e não quero mais sentimentos,
Que morram todos os sentimentos; sentidos,
Para que sentidos, se a vida não tem
Sentido? que morram todos os sentidos, como
Morre o dia e como morre a noite; e o que
Não deveria morrer, é o que mais morre: que
Morram todas as mortes, com seus mortos; o que
Deveria viver, é o que menos vive: para que vida,
Se a vida é a morte? há pessoas que não gostam
Que falam na morte, são as que pensam que viverão
A vida toda; e muitos que pensam que são
Eternos, imortais, são os primeiros a morrer;
Pensamentos, não quero mais saber de pensamentos,
Todo pensamento é não pensar; não há nada
Mais importante do que não pensar; é o que farei
A partir de agora, não pensar, pensar é aborrecer, é
Perder a percepção, é não ter intuição; as pedras
Não pensam e são eternas, é mais fácil partir-se
O átomo, do que entendermos o pensamento humano;
E para que entender o pensamento humano, se
Não entendemos o nosso próprio pensamento?
Às favas com os pensamentos, os mandamentos,
Os juramentos, todos os jumentos; a chuva
Preste a cair, é que é o belo, é o que renova
O nosso ciclo de vida; e quem não tem
Uma tarde de chuva dentro de si, nasceu
Morto; trago os meus tesouros dentro de mim,
Todas as minhas tardes de chuva, as esquecíveis
E as inesquecíveis; e guardo também minhas
Tardes de sol, os voos das minhas garças, as graças
Dos meus urubus, o plainar dos meus gaviões;
E ó firmamento, azul do céu, céu azul, isso é o que
Quero almejar, ser assim tão irresistível e fazer
Qualquer um chorar, ao olhar para mim;
Mas, não chorar de pena, chorar por não compreender
A profundidade que habita-me, de tal forma
Que choro por não entender a profundidade celeste; e
Por que o mundo é redondo e os mundanos são quadrados?
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