E não tenho assunto
E nem tenho ponto de vista
Não tenho opção para opinião
E não tenho vocabulário
Nem tenho educação
Sou tido como um feio
Sou tido como um chato
E um papo furado
Ou relógio atrasado
Uma migalha de gente
Uma porção de carne vermelha e crua
Da pele sardenta e nua
E não tenho roteiro
E não tenho rotina
O sofrimento é a minha cama
E a dor a minha coberta
O medo meu travesseiro
E a covardia minha menina dos olhos
Que se retrai ofuscada pela luz do forte
E na vida afundei na lama
E sem assunto e sem amor
Na noite perdi a vista
Do ponto que sou no universo
E uso a opinião alheia pois a minha falhou
Virei pelo avesso o outro lado estragou
E não tenho mulher
Nem tenho onde morar
Não tenho que trabalhar
Gosta de mim quem quiser
Sou um antipático
Como um desenho animado
Sou a caricatura frustrada
Que colocaram num pátio
Duma prisão de loucos
Loucos que andam soltos
Como ainda estou
Não tenho nada na cabeça
Nem sei o que pensar
Não tenho o que pensar
Às vezes me dar vontade de dormir
E nunca mais acordar
A vida hodierna
Não deixa a gente entender
Que é preciso ainda saber
Para viver em pouco tempo
Tem muito que aprender a viver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário