Vou doar meu fígado
Meu fígado vou doar
Quem quiser meus rins
Também pode levar
Sabeis que sou assim
Onde tudo é ruim
Podeis me retalhar
Um pedaço para cá
Outro pedaço para lá
Um naco acolá
As córneas meus amigos
Podeis aproveitar já embaçadas
O coração sujo também
Se achais quem precisar
Os pulmões que trago aqui
Estragados dois levais um
Sorteais o outro
A medula de sangue venoso
É só falar comigo
Quem quiser correr perigo
Ninguém pode esperar mais
Por um órgão se for salvador
Se sou um pária inútil
Um parasita sofredor
Tenho mais é que ser doador
Arrancais um órgão aqui
Arrancais outro órgão ali
Quem de vós estivéreis a chorar
Começais agora a sorrir
Vou doar tudo em mim
Ficar oco por dentro
Vazio de vácuo vago
Se o cérebro cérbero servir
Também podeis partir
Um hemisfério para a poesia
Outro hemisfério para o poema
Talvez assim eu possa existir enfim
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