quinta-feira, 29 de julho de 2021

Maria Gaguinha; RJ/1977; Publicado: BH, 0290702021.

Maria Gaguinha
Coitadinha
Entrava na venda do pai
Com os pés
E as pernas inchados
E cheios de perebas
Maria Gaguinha
Pobrezinha
Entrava na vendinha
E pedia assim
Me me dá dá
U um um uma ca
Ca ca cha cha cin cin nha aí
Bebia a cachacinha
Cuspia no chão
Passava o pé descalço
E cheio de perebas no cuspe
Tirava o dinheirinho
Todo amarrotadinho
Talvez o único
E pagava a cachaça
Depois saía
A gaguejar pragas sozinha
Toda sujinha
Maria Gaguinha
Pequenininha
Vozinha fininha
Corpo frágil
Vivia pelas vendas
A gaguejar à toa
Cousas que pouca gente entendia
A tomar cachaça
Que pagava
Que alguém pagava
E a cuspir pelos chãos
Maria Gaguinha
Do álcool desdobrado
Da pinga falsa
Vivia pelas calçadas
Cheias de cuspes
Onde caía
E dormia embriagada
E um dia
Apareceu engravidada.

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