Bem que podia cair uma chuvinha,
Nada melhor do que ficar quietinho,
Num cantinho, a sentir o chiar da chuva
Miúda cair; muita gente prefere
Outras coisas, outros mundos, ou
Universos; e há os que só querem uma
Chuvinha miúda, para aconchegar-se
Mais ao coração; e há os que só querem
A quietude das tardes domingueiras
Agostinianas; o mais é ambição ou
Vaidade ou busca duma satisfação que
Não satisfaz; amanhã, segunda-feira,
Segundona brava, começa a semana ,
A labuta aos que labutam, a preguiça
Aos ociosos; aos doentes os remédios
Que fingem curar e aos famintos os
Alimentos que fingem matar a fome; e
No momento, aos desassossegados, o
Sossego esperado, com os ruidinhos
Duma chuvinha miúda a cair quase
Imperceptível; e aos que dormem
Os sonhos não realizados, pois
Sonhos realizados só aos que estão
Acordados; e aos vivos as propagandas
Enganosas, pois amam ser enganados,
Adoram os supérfluos e os superficiais;
Aos expectadores as personagens, os
Protagonistas, os animadores do fútil,
Do lixo inútil; aos que pensam que
Está tudo certo, alguma coisa de
Errado; e aos que pensam que está
Tudo errado, alguma coisa de certo;
E todos, deixai-me aqui a sonhar,
Com uma chuvinha miúda.
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