Não há uma maneira de ser desenterrado,
E quero ser desenterrado, reencarnar-me
Em algumas carnes nobres, este meu
Esqueleto decadente; ando à procura
Dalgum cadáver fresco, um morto que
Pareça vivo, para fazer na minha ossada,
A reencarnação; não aguento mais ficar
Enterrado aqui, minha caveira chacoalha-se,
Os ossos vibram como se fossem chocalhos
De cascavéis; psicografo meus pensamentos
Mofados, e a mortalha não sai de cima da
Minha ossatura envelhecida; e viro-me, e
Reviro-me nesta sepultura que não é um
Sepulcro; são minhas memórias póstumas,
São minhas lembranças fúnebres, são
Minhas recordações funestas, que vêm
Incomodar-me, a quererem outro encosto,
Para voltarem à vida; e tento dialogar,
Não há jeito de desenterrar-me, não há
Mais como voltar-me à luz? sair a escolher
Carne de primeira, carne nova e cheirosa,
Que precisa de beber sangue todo dia; e
Volto ao meu recanto, e nem um regato
Para cantar a marcha fúnebre, ou o
Réquiem; aqui não há riacho, córrego,
Ribeirão; e quando alguém chora, e cai
Uma lágrima aqui, é uma imensa
Melancolia para nós, a lágrima é
Imediatamente evaporada, não chega às
Pontas das nossas calcinadas línguas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário