Não importa e já estou condenado
E culpado, réu confesso, estou condenado;
Não quero defesa, não quero justiça,
Não quero tribunal, juiz, desembargador,
Defensor, promotor, nada disso quero,
Renegado, estou condenado, e quero
Cumprir a pena; nem habeas corpus,
Alvará de soltura, ou outro benefício
Que a lei possa garantir-me; sou um
Fora da lei, detesto lei; e não quero o
Indúbio pro réu, o contraditório, a
Ampla defesa, não quero o direito;
Sou um preso de penitenciária, sou um
Presidiário, e não quero visitas, nenhum
Contato com o mundo lá fora, com o
Estado, com o sistema, a sociedade; não
Faço questão de nenhuma assistência,
Só a solidão de solitário na solitária;
Sem banho de sol, incomunicável,
Sem visita íntima; e quando houver
Rebelião, que eu seja feito refém, e
Que não haja acordo nas negociações,
E que o refém seja executado; e não
Quero coisas belas, o belo, o certo,
Quero o torto, o duvidoso, o indeciso;
É, não quero o sadio, quero o sádico,
O terror, os versos sangrentos, os
Versículos profanos; não sou
Consagrado, não sou batizado, e fui
Excomungado pelo papa; mas não
Importa, nada me importa, minha
Alma é torta, nada dá jeito nela
E neste espírito enviesado.
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