terça-feira, 17 de abril de 2018

Trago no peito meu; BH, 01101001999; Publicado: BH, 0170502012.

Trago no peito meu
Coração abaiucado
Que se assemelha à baiuca
Aspecto de botequim de estrada,
Espectro de rancho de casa miserável
Trago aqui coração
Cansado de abaiucar de magoado
Todo mundo entra
Todo mundo sai
Cospe no chão
Joga bagana de cigarro
Resto de cachaça
Deixa-o desarrumado
Não aparece ninguém
Para poder arrumar
Dar uma abaixadela aqui
Escutá-lo bater
A pedir socorro
É o abaixamento cardíaco
A diminuição da batida
A abaixadura do som
Dum coração de bala dum dum
Que não quer fazer barulho algum,
Nem quando ver uma mulher
Ainda usa o abaixa-luz
O aparelho que diminui
Intensidade da luz de lâmpada
Quando o sol aparece
Usa o abaixa-pálpebra
Agulha destinada a manter
Baixadas as pálpebras
Mesmo quando não vai fazer
Nenhum exame clínico
Muito estranho este coração
Que trago aqui no peito meu
Agora me impõe um abaixa-voz
Quer calar os atabaques tantãs
Das macumbas das encruzilhadas
Que os negros fazem dentro do meu peito
É um dossel que cobre o púlpito
Um abafador para que seja impedido
De continuar a falar nele
Deixá-lo enterrado no seio
Pregado no tronco esquecido
Num cemiteriozinho de encosta

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