domingo, 5 de abril de 2020

"Linhas Internas", A mariposa e a taruira; Publicado: BH, 050402020.

A mariposa voa pela sala
A exibir voo frágil e ligeiro
De longe e com olhos malignos
A taruira está a estreita 
A mariposa inocente e insegura
Cansada do voo inútil
Pousa na parede da sala
A prever um descanso 
Sofrido e reparador
Não sabe que o perigo está próximo
A aproveitar a oportunidade
A taruira se aproxima lenta
Quase sem se mover
E parece que diz para a mariposa
Como vai:
Muito cansada?
Voou muito?
E lentamente aproxima-se mais
Depois daquelas rápidas perguntas
A mariposa não sabe
Mas está preste a ir para a escuridão
E não sabe que está preste a ser
Um delicioso jantar
Vou bem obrigada
Responde a mariposa gentilmente
Um pouco e logo estarei a voar novamente
A taruira continua a se aproximar
E agora parece falar consigo mesma
Fica aí e não se mexa
É só mais um minutinho
Zás e lá se foi a mariposa
Acabou o sonho de voar
Acabou o balé de acrobacias
A mariposa alegre e livre
Bailarina não mais voará
Entre as mandíbulas da predadora
Dá o seu último suspiro
E talvez diz
Adeus mundo cruel
E traiçoeiro
E a taruira lambe os lábios satisfeita
Depois dum esplendido acepipe
Um bom sono é úitl
Balança a cabeça
Olha ao redor
Nada de novo
Tudo igual como era antes
Tudo para ela é incolor
Dá outra olhada
Talvez a querer dizer
Boa-noite a alguma companheira
Amanhã será a mesma vida
O mesmo drama.

Um comentário:

  1. Viver de fato é um drama. Ainda mais quando seres humanos devoram os seus semelhantes.

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