terça-feira, 1 de abril de 2014

Aconselho a todos a fingir; BH, 0301102013; Publicado: BH, 01º0402014.

Aconselho a todos a fingir
No futuro
A saída para a humanidade
Será o fingimento
Já finjo desde o dia em que nasci
Finjo que amo
Que sou feliz
Que sou sadio
Que sou são
Finjo que sou consciente
Cheio de razão
Sorrio
Mas a vontade é de chorar
Aconselho a todo mundo a fingir
Nem será notado que finge
A maioria que nos cerca é toda de falsos
O mais fácil que tem é o fingir
Fingir que é corajoso
Que não tem covardia
Fingir que é forte
Que nunca fraqueja
É assim que faço
Ninguém nunca reparou
A não ser quando falo
Os políticos não se fingem de éticos
De honestos tão bem?
Os juízes não posam com togas de
Capas pretas carrancas de vestais?
Mas por debaixo daquelas togas
Daquelas capas fede mais do que esgoto
O poeta não é um fingidor?
Então vamos fingir minha gente
Fingir de cultos de educados
Fingir de satisfeitos de realizados
De espertos bem informados
Fingir de que não somos lesados pelos bancos
Pelo mercado pela sociedade e pela mídia
Vamos fingir que somos livres independentes
Que existimos dignamente
Que somos de fato gentes
Que vivemos numa democracia
Com cidadania com soberania

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