Não tenho mais um quintal
Descaracterizaram meu quintal
Perdeu a graça perdi com isso
A companhia dos calangos
Dos pardais dos beija-flores
Das rolinhas dos pombos
O cachorro não fica mais de guarda debaixo do banco
Uma boa parte do azul do céu conseguiram esconder de mim
Não tenho mais um terreiro
Onde muitas vezes via-me menino
A correr a brincar a sonhar
Muitas vezes idealizei-me a conquistar continentes
A domar cavalos selvagens
A frear boiadas estouradas
Não tenho mais meu país imaginário
Meu exército vencedor
Meus navios de guerra
Aprisionaram-me mais no interior da caverna
Lá só encontrei um dos acorrentados de Platão
Os outros não sei aonde foram
Juntei-me a esse acorrentado
Tornei-me escravo cativo
Fiz dele o meu amo
Recebe os seus espíritos no seu canto
Conversa com seus fantasmas
Almas deuses
No meu lugar
Não me vejo mais menino
Não tenho mais canteiros
Não me enxergo mais no espelho
Nem estou mais em mim
Emparedaram aquela infância que vinha visitar-me
Trazer de longe as pueris recordações
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