quinta-feira, 10 de abril de 2014

É uma madrugada; BH, 0250902013; Publicado: BH, 0100402014 .

É uma madrugada
Em que nem chover
Chove
O que mais se pede
Numa madrugada de insônia
É uma chuva
Absurdidade
Nenhum cachorro late
Os cachorros já foram dormir
O que continuo a fazer aqui?
Tenho pesadelos de cascatas de letras
Ora são cataratas de palavras
Cachoeiras mais cachoeiras de frases
Todas aos borbotões
Numa enxurrada de temporal
Lá fora nenhuma chuva cai
Será que sonhei que chovia?
Levantei da cadeira
Fui até à janela
Verifiquei o pátio em frente
Nada
Nenhuma chuva
Fiquei foi mais doente
A suar é de calor
De raiva fechei todas as janelas
A da sala a da cozinha
Reluto para não ir dormir
Penso no Vladimir Nabokov
Que as más línguas falam que não dormia
Não quero dormir
Até me assusto com o barulho do automático da geladeira
Vazia como sempre
Nenhuma bebida
Também pareço que nunca vi bebida
É só aparece uma garrafa
Pelo menos para enfeite
Já a entorno rapidamente
Em quem que tenho que pensar agora
Se não quero pensar em ninguém?
Nem em mim quero pensar
Não mereço pensamento
Nem meu nem de ninguém
Amanhã
Se amanhecer vivo
Colocarei uma cara de homem sério
Sairei para a rua fora
Para toda a rua fora
Como se não estivesse ferido

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