O Corvo de Poe
Às vezes penso
Nunca mais escrever um poema
Como o Corvo do Poe
Nunca mais amar uma poesia
Mas meu coração não se conforma
Daí a algumas horas lá estou lá
Á mesa de trabalho jogador inveterado de
Baralho crupiê viciado a profanar o sagrado
Fumante beberrão amante inveterado
Transviado infiel a todos os fieis
Judas vendedor vendido a ressuscitar elegias
A cantar odes mortas
Depois arrependo-me
É que a emenda sai pior do que esperava
O soneto que tanto me desesperava um
Enche-me de frustração
Nunca mais pego numa pena,
Nem com as mãos
Lá vem o Corvo do Poe
A pousar nos meus ombros
Numa eterna tentação
Nunca mais ecoa nos meus meandros cerebrais
Uivo louco lobo babo
Quero destruir a madrugada
Fazer uma arruaça
Brigar ir em cana
Quero quebrar um ônibus
Afrontar à polícia
Passar a noite na cadeia
Deitar no meio duma autoestrada em suma
Ser periciado depois num IML
O poema que consigo é a causa mortis
A poesia é o atestado de óbito
A elegia é a missa fúnebre
Às vezes não posso beber
É beber a sede aumentar
Depois vem o Corvo de Poe
A voar ao redor de mim
Nunca mais pego num copo
Nunca mais viro poeta
Digo ao Corvo de Poe
Nunca mais
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