sexta-feira, 21 de agosto de 2020

"Originais", RJ/1980, Cabeção; Publicado: BH, 0210802020.

Mas não sai nada mais não
Do oco vago do meu cabeção
Queria que saísse agora
A minha verdadeira obra-prima
A minha verdadeira obra de arte
E não sai mais nada não mesmo
Já esvaziou por completo
Não encontro mais nada
Nem dentro e nem fora
Do meu grande cabeção vazio
Oco igual a um pé de pau oco
Eita cabeção grandão e bobão
Não serve para nada não
Vão igual ao vácuo
É um cabeção sem função
Não pensa e nem raciocina
E não vibra ou lateja
Não reflete e não lembra
E não entende e não atende
Esquece de tudo e não memoriza
É um cabeção inconsciente e irracional
Um cabeção insano e escuro
Morto e pesado e podre e obscuro
É um cabeção sem futuro
Não adiantam as vitaminas
Não adiantam as proteínas
E os sais minerais
Os neurônios já morreram
É um cabeção seco
Mais árido do que o deserto de Saara
Não tem uma miragem
E não tem um oásis
Corta o cabeção e lança-o
No fogo do fogão
É um cabeção inútil
É um cabeção fútil
Não fazia falta mesmo
O que que se faz
Com um cabeção desse?
Não sai nada mesmo não
Adeus ignorante cabeção
Só tem tamanho e sacanagem
Só pensa safadeza
Não tem mais nada não
E a querer tirar de ti
O meu sustento e o meu pão.

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